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Guerreiros do Sol (6°VIsup E2 D2) 200m

Saiu do forno no final de semana passado uma nova via na Serra da Prata, em Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil. A via se chama Guerreiros do Sol, graduada em 6° VIsup E2 D2 200m, e segue a linha mais ingrime da pedra, com escalada predominantemente em agarras pequenas e proteção regular sem muito descanso.

Traçado das vias da Serra da Prata, Guerreiros do Sol segue a linha de n° 6.

Abrimos a via em duas empreitadas, ou melhor, duas manhãs de domingo. A primeira foi no mês de abril, quando eu e Miguel Alejandro saímos do abrigo às quatro e meia da manhã pensando em entrar o mais cedo possível na parede pois sabíamos que a partir das 10 h o sol pegava forte. Só que tivemos que reabrir a trilha que estava praticamente fechada devido ao período de chuvas que ocorre por agora aqui na região. Após quase duas horas de foiçadas chegamos à base, subimos uns 15 m  de trepa-pedra/trepa-árvore até chegar em um platô confortável onde estabelecemos a "base" da via.

Comecei com a ponta da corda e segui uma fendinha cega no positivo em uma rocha meio suja, bati duas chapas e achei umas colocações de nuts pequenos bem legais, passei um "tetinho" também em móvel e virando pra parte limba da rocha, entrei em uma chaminé muito bonita, com rocha boa e limpa e fui até o final onde bati a P1.

 Primeira enfiada, primeiras chapas da via.

 Sequência crux da primeira enfiada, em móvel.

Chaminé

Miguel entrou na sequência e mandou mais 30 m de placa que ficaram bem exigentes,  agarras pequenas, dificuldade constante protegido com chapeletas na medida da emoção saudável. Daí descemos pois temos medo do sol e porquê eu tinha uma aula pra dar no mesmo dia ainda...

Já na segunda investida, escalando a segunda enfiada, emendada com a primeira.

Cerca de um mês depois, voltamos com o reforço do Junior Manoel, local de Brejo, pra continuarmos a conquista, dessa vez até o final. Saímos cedinho novamente e um pouco na dúvida se ia rolar ou não, pois havia chovido de noite e a pedra estava molhada.

Trilha no segundo dia

Caminhamos cerca de meia hora até a base, com a trilha já aberta e começamos a escalar às 6 h. Comecei guiando e emendei as duas enfiadas que havíamos conquistado antes, a sequência foi bem exigente pros pés e pode ser feita com algumas costuras longas sem muito problema de arrasto.

Junior e Miguel subiram com a tralha e eu abri os trabalhos do dia, conquistando os 30 m da sequência, era a enfiada mais ingrime e possivelmente a mais difícil, também fixa e com boa proteção. Miguel subiu em livre dando um limpa nas agarras soltas e avaliando o grau.

Início da terceira enfiada. Cauí escalando e Junior na seg.

Miguel na terceira enfiada

 Tecnic

Sucrilhos matinais do Miguel

Passamos a pior parte, agora a parede vai só presenteando-nos até o cume. Miguel pega a ponta da corda e conquista mais 30 m de quarto grau, depois eu sigo por mais 70 m de III até a última parada da via "Carvão Carvãozinho", terminávamos a conquista da via mais exigente da parede!

Miguel na quarta enfiada

Miguel, Junior e Cauí. Brejo da Madre de Deus ao fundo.

Da primeira vez descemos cedo, da segunda, desfrutamos de um dia nublado, com pouco sol, mas sabemos que nas reais condições de escalada nessa parede, quem não acordar cedo e se agilizar, vai ter que dar uma de guerreiro do sol, principalmente da hora do rapel escaldante! hehehe

Brejo da Madre de Deus

Na descida, quado eu ia me solteirar na P1 tive essa surpresa incrível:

Foto: Miguel Alejandro

Detalhes para repetição da via:

A via é praticamente toda fixa, protegida com chapeletas + bolt de 3/8" ao longo da via e chapeletas com malha-rápidas de 8mm fixadas com bolts de 3/8" nas paradas, exceto pela última, quepertence originalmente à outra via, e é feita com grampos P de 1/2". Para rapelas do meio de alguma enfiada será necessário abandonar algo (óbvio). As peças móveis utilizadas na primeira enfiada estão especificadas no croqui.

A via pode ser escalada tranquilamente com uma corda de 60 m, mas na hora de juntar duas enfiadas em uma pode faltar de um a cinco metros em algumas enfiadas. Com 70 m de corda se pode emendar qualquer uma delas sem problemas.

O primeiro rapel, saindo do cume, mesmo com corda de 70 m não chega na parada anterior, mas basta descer pra parada da via "Os Preparados", que fica ao lado direito, em uma leve diagonal. De lá é só fazer outro rapel de volta à via (P6) e continuar pela via normalmente.

A trilha é a mesma de quem vai pras vias Chapados e Carvãozinho, após chegar na pedra, seguir um pouco pra direita. Não confundir com uma linha de chapeletas que inicia-se do chão, pouco antes da via. As primeiras chapas da Guerreiros do Sol estão depois do platô à 15m de altura e não podem ser vistas do chão. Mas pra achar a linha não é difícil, pois ela segue o risco marrom mais nítido, que vai do chão ao cume, bem no meio da pedra, e inicia-se em uma chaminé.

Croqui da via. Clique para ampliar.

Boas escaladas a todos!!

Comentários

Juliano disse…
Cara, parabéns pelo trabalho ! Queria começar a praticar montanhismo/escalada , sou de Recife , queria saber se vcs conhecem alguém pra dar aula ? Se tem algum fone pra contato etc ... Obg pela ajuda !!
Cauí Vieira disse…
Oi Juliano, eu trabalho com o curso básico de escalada, fica de olho no meu blog que quando tiver novas turmas eu cloco as informações lá!
cauivc.blogspot.com

abraço

Cauí

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